quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Cancro de cabeça e pescoço: especialistas sensibilizam para diagnóstico precoce

O Grupo de Estudos de Cancro de Cabeça e Pescoço, em parceria com a Sociedade Europeia (EHNS), vai organizar uma semana de sensibilização para a problemática do cancro de cabeça e pescoço. A iniciativa decorre de 23 a 27 de setembro do corrente ano e no âmbito da mesma vai ser organizado um Dia Aberto…
"A colaboração dos vários hospitais a nível nacional é fundamental para podermos dar corpo a este Dia Aberto e poder desta forma observar todos aqueles que pretendam envolver-se na campanha ‘por um diagnóstico precoce do cancro de cabeça e pescoço’”, referiu em entrevista ao HdF Jorge Rosa Santos, presidente do Grupo de Estudos de Cancro de Cabeça e Pescoço.
  
HdF: Qual a incidência do cancro de cabeça e pescoço em Portugal?
Jorge Rosa Santos: De acordo com os dados do Registo Oncológico Nacional de 2006, em Portugal os tumores de cabeça e pescoço correspondem a cerca de 7% das neoplasias malignas em geral. Destas, cerca de 60% (1.700) têm origem no epitélio pavimentoso estratificado das vias aéro digestivas superiores, englobando cavidade oral, orofaringe, nasofaringe, hipofaringe e laringe. As restantes correspondem a neoplasias malignas da tiroideia, das glândulas salivares, do osso e das partes moles e a metástases cervicais de tumores primários ocultos. Excluem-se os tumores da pele.

HdF: O cancro da cabeça e do pescoço afeta sobretudo fumadores e ex-fumadores. Na sua opinião a Lei do Tabaco contribui para reduzir o número de casos em Portugal, ou pelo menos pode ajudar a diminuir a incidência?
JRS: O Conselho de Prevenção do Tabagismo foi fundado e dinamizado na década de 80. Este organismo público teve nos seus anos iniciais um grande dinamismo na luta antitabágica. Data dessa altura uma série de legislação antitabágica inovadora mas que nunca foi suficientemente implementada pelos Governos sucessivos e pelos Conselhos de Prevenção do Tabagismo subsequentes que mantiveram uma atitude de enorme apatia perante o desafio da cessação tabágica.
Em 2007 o CPT foi extinto, tendo dado lugar ao Grupo Técnico Consultivo na estrita dependência da Direcção Geral de Saúde. Desde então foi implementada muita da legislação já aprovada e outra agora aprovada.
Um dos fatores de risco para o cancro de cabeça e pescoço é o hábito tabágico.
A implementação de uma legislação restritiva que impeça a sua publicitação em espaços públicos ou nos meios de comunicação social, que limite os espaços de consumo tabágico a áreas específicas para os fumadores evitando os malefícios do tabagismo passivo, aliada a uma sensibilização para os malefícios do tabaco a ser efectuada junto dos jovens, e ainda o apoio às consultas de cessação tabágica constituirão formas activas de luta e prevenção antitabágica com enorme repercussão na prevalência dos tumores de cabeça e pescoço.
Mas nem só o cancro de cabeça e pescoço esta implicado nos hábitos tabágicos. Também os tumores esófago-gastricos, os tumores do pulmão e o carcinoma da bexiga têm no tabaco um dos principais factores predisponentes.
A redução do hábito tabágico e a redução dos hábitos alcoólicos exagerados e muito especialmente a associação destes dois hábitos terá um impacto relevante na redução dos tumores de cabeça e pescoço, especialmente dos tumores com origem no epitélio pavimentoso estratificado das vias aéro-digestivas superiores.

HdF: Vários hospitais vão acolher rastreios  no âmbito da Semana Europeia Contra o Cancro de Cabeça e Pescoço. Em que consiste este diagnóstico e qual a sua importância?
JRS: É importante diagnosticar precocemente as neoplasias de cabeça e pescoço, muito em especial as que têm origem no epitélio pavimentoso estratificado das vias aéro-digestivas superiores. Estas são neoplasias habitualmente diagnosticadas em fases já tardias (70%), com alta taxa de mortalidade (60%) implicando nas suas fases avançadas tratamento que comprometem o equilíbrio estético e funcional do doente com repercussões graves na reintegração socioprofissional e com grande compromisso da qualidade de vida dos doentes.
De 23 a 27 de setembro do corrente ano, o Grupo de Estudos de Cancro de Cabeça e Pescoço, em parceria com a Sociedade Europeia (EHNS) vai organizar uma semana de sensibilização para a problemática do cancro de cabeça e pescoço, muito especialmente nas suas vertentes de prevenção primária e secundária e no diagnóstico precoce. Durante esta semana organizaremos um Dia Aberto dedicado ao diagnóstico precoce deste tipo de neoplasia, tendo tido para esse efeito a adesão de cerca de 20 hospitais em Portugal. A colaboração dos vários hospitais a nível nacional é fundamental para podermos dar corpo a este Dia Aberto e poder desta forma observar todos aqueles que pretendam envolver-se na campanha “por um diagnóstico precoce do cancro de cabeça e pescoço”.

HdF: Também vão ser preparadas ações mais dirigidas aos jovens, nas escolas. Qual a importância de abordar a temática junto da população mais jovem?
JRS: Os fatores de risco major no cancro de cabeça e pescoço são os hábitos tabágicos excessivos, o consumo exagerado de bebidas alcoólicas e sobretudo a associação destes dois comportamentos.
É necessário sensibilizar os jovens para estes comportamentos de risco, pelo que serão efectuadas em diversas escolas secundárias nacionais, palestras sobre este tema acompanhadas da divulgação de um vídeo animado fundamentado nesta temática que procura reforçar o papel sensibilizador das palestras e apresentações.
É nossa intenção visualizar também um vídeo do IPOLFG no qual possa ser visionado o acolhimento, o diagnóstico e o tratamento destas neoplasias.
Tem-se falado muito do papel do Vírus do Papiloma Humano (HPV), muito especialmente das estirpes 16 e 18 na génese dos tumores das VADS. Este é um tema importante para os jovens. Se bem que pareça haver um nexo de casualidade relativamente aos tumores da orofaringe, este problema ainda não está totalmente esclarecido, sendo ainda muito cedo para estigmatizar determinados comportamentos sexuais como fatores de risco acrescido para o cancro de cabeça pescoço.

HdF: É a primeira vez que Portugal participa da Semana Europeia Contra o Cancro de Cabeça e Pescoço?
JRS: Não. Em Maio de 2012, o GECCP organizou, uma campanha de sensibilização para este tipo de tumores com campanhas de rua, um dia aberto ao qual aderiram a nível nacional oito hospitais envolvidos no diagnóstico precoce e ainda com a distribuição de diversos tipos de material alusivo.
Esta campanha teve uma grande repercussão na imprensa. Em 2013 será o primeiro ano em que vai ser organizada uma campanha de sensibilização a nível europeu. Esta campanha tem sido coordenada pela EHNS, embora as Sociedades e Grupos Nacionais tenham a possibilidade de ter campanhas adaptadas e individualizadas para a sua realidade em termos de Saúde Pública.

HdF: Que outras iniciativas são preparadas pelo Grupo de Estudos de Cancro de Cabeça e Pescoço fora do âmbito da efeméride?
JRS: Para além desta semana de sensibilização, o GECCP irá organizar na semana anterior um Simpósio subordinado ao tema “Imagiologia nos Doentes com Tumores de Cabeça e Pescoço”. Trata-se de um tema muito interessante para os médicos mais envolvidos nesta patologia, pretendendo melhorar a capacidade interpretativa dos exames radiológicos por parte dos clínicos. Pretendemos também durante esta semana sensibilizar todos os profissionais de saúde para a necessidade e para os resultados desta campanha de sensibilização com o envolvimento de todos, médicos, médicos dentistas, enfermeiros, assistentes sociais, nutricionistas, psicólogos, etc.