Top inovação 2011. Apesar dos cortes, há inovações a melhorar a saúde dos portugueses
Num ano de anúncios de contenção, na saúde e na ciência, hospitais e universidades continuaram a inovar. Muitos apostaram em tecnologias inovadoras para problemas complicados do coração e o Centro Hospitalar Barreiro-Montijo começou a aplicar uma nova radioterapia que melhora o prognóstico de doentes com cancro do pulmão e do fígado. Nem tudo é cor-de-rosa: em Coimbra, uma ideia para poupar medicamentos e melhorar o tratamento do glaucoma ficou na gaveta
Implante inédito de uma superválvula aórtica
Hospital de Santa Cruz Em Novembro, o Hospital de Santa Cruz, em Carnaxide, fez o primeiro implante de uma válvula aórtica artificial maior que o normal, a primeira que permite tratar sem cirurgia doentes com válvulas aórticas até 29 milímetros, ligeiramente maiores que é normal.
Até aqui estes doentes não tinham acesso a este tratamento, uma solução mais eficaz que a medicação e que não exige cirurgia: o implante é feito através de um cateter.
Os dispositivos, agora em três tamanhos, são usados numa doença do coração chamada estenose aórtica, quando a válvula que separa o ventrículo esquerdo da artéria aorta (e evita que o sangue bombeado volte para trás) não abre normalmente, o que faz com que o sangue passe com dificuldade e provoca cansaço, dor no peito e desmaios.
Esta doença afecta uma em cada 15 pessoas com mais de 80 anos, mais de 31 mil portugueses.
Até aqui estes doentes não tinham acesso a este tratamento, uma solução mais eficaz que a medicação e que não exige cirurgia: o implante é feito através de um cateter.
Os dispositivos, agora em três tamanhos, são usados numa doença do coração chamada estenose aórtica, quando a válvula que separa o ventrículo esquerdo da artéria aorta (e evita que o sangue bombeado volte para trás) não abre normalmente, o que faz com que o sangue passe com dificuldade e provoca cansaço, dor no peito e desmaios.
Esta doença afecta uma em cada 15 pessoas com mais de 80 anos, mais de 31 mil portugueses.
O futuro das gotas para os olhos procura investidores
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra É uma inovação made in Portugal e só ainda não está disponível no mercado porque não encontrou parceiros na indústria para a desenvolver. Em Fevereiro, o trabalho de doutoramento de uma estudante romena em Coimbra levou ao desenvolvimento de uma espécie de microcomprimido que prometia tornar mais eficaz o tratamento de doenças como o glaucoma. A ideia de Madalina Natu era rentabilizar melhor os medicamentos e os tratamentos, uma vez que na aplicação normal de gotas a maior parte do líquido acaba por se perder (estima-se que só 5% da dose administrada chegue ao sítio certo).
Este biodispositivo seria implantado no olho através de uma cirurgia simples e libertaria o medicamento de forma progressiva. Passados dez meses, Helena Gil, coordenadora do projecto na FCTUC, explicou ao i que, apesar de algumas conversações, para já, ninguém agarrou o protótipo. Quanto a Madalina Natu, como não encontrou trabalho em Portugal, foi trabalhar numa empresa de dispositivos médicos na Holanda.
Este biodispositivo seria implantado no olho através de uma cirurgia simples e libertaria o medicamento de forma progressiva. Passados dez meses, Helena Gil, coordenadora do projecto na FCTUC, explicou ao i que, apesar de algumas conversações, para já, ninguém agarrou o protótipo. Quanto a Madalina Natu, como não encontrou trabalho em Portugal, foi trabalhar numa empresa de dispositivos médicos na Holanda.
Um alívio inteligente da dor crónica
Hospitais de Setúbal e de S. João Estima-se que a dor crónica afecte até 30% da população adulta em Portugal, mas muitos casos não são diagnosticados e os doentes não fazem qualquer tipo de tratamento, o que gera mais de 11 milhões de dias de absentismo por ano. Um estudo da Deco divulgado em Novembro concluiu que um em cada quatro portugueses não faz o tratamento por falta de dinheiro – as despesas chegam a rondar os 77 euros por mês.
Os hospitais de Setúbal e de São João, no Porto, começaram em Março a usar um novo dispositivo neuroestimulador implantável para aliviar a dor.
A novidade é que ajusta automaticamente as descargas à posição do doente, através de sensores que detectam oscilações no eixo de gravidade, e à sensação de desconforto, substituindo de forma mais eficaz a dor por um formigueiro ligeiro.
Os hospitais de Setúbal e de São João, no Porto, começaram em Março a usar um novo dispositivo neuroestimulador implantável para aliviar a dor.
A novidade é que ajusta automaticamente as descargas à posição do doente, através de sensores que detectam oscilações no eixo de gravidade, e à sensação de desconforto, substituindo de forma mais eficaz a dor por um formigueiro ligeiro.
Radioterapia com resultados em uma a cinco sessões
Centro Hospitalar Barreiro-Montijo Este ano o Serviço de Radioterapia do Centro Hospitalar Barreiro-Montijo começou a usar uma nova modalidade de radioterapia que já existia em todos os países europeus, inclusive em 18 centros espanhóis, mas estava em falta em Portugal. A radioterapia estereotáxica extracraniana permite tratar de forma mais precisa as lesões de doentes com cancro em uma a cinco sessões, e através de feixes de radiação múltiplos guiados por coordenadas tridimensionais ao local exacto do tumor.
Paulo Costa, director do serviço, explicou ao i que, em relação à abordagem clássica, esta técnica aumenta as doses apontadas aos tumores a tratar, com menor toxicidade para os tecidos saudáveis à volta. Nos últimos seis meses, 18 doentes fizeram esta radioterapia inovadora e o hospital tem recebido doentes encaminhados de hospitais de Vila Nova de Gaia/Espinho, Évora, Trás-os-Montes e Alto Douro, Santa Maria e Pulido Valente, em Lisboa. Entre as melhorias de prognósticos, Paulo Costa destaca o resultado desta radioterapia em doentes com cancro do pulmão e do fígado.
Paulo Costa, director do serviço, explicou ao i que, em relação à abordagem clássica, esta técnica aumenta as doses apontadas aos tumores a tratar, com menor toxicidade para os tecidos saudáveis à volta. Nos últimos seis meses, 18 doentes fizeram esta radioterapia inovadora e o hospital tem recebido doentes encaminhados de hospitais de Vila Nova de Gaia/Espinho, Évora, Trás-os-Montes e Alto Douro, Santa Maria e Pulido Valente, em Lisboa. Entre as melhorias de prognósticos, Paulo Costa destaca o resultado desta radioterapia em doentes com cancro do pulmão e do fígado.
Solução para a hipertensão arterial resistente
Centro Hospitalar de Coimbra e hospitais de Santo António e Santa Maria Vários hospitais portugueses começaram este ano a usar uma nova técnica para lidar com os casos de hipertensão arterial resistente a medicamentos – quando o tratamento com três ou mais medicamentos não é suficiente para baixar a pressão arterial, um dos principais factores de risco nas doenças cardiovasculares.
Este tipo de hipertensão resistente tem vindo a aumentar, sobretudo nos casos de doentes mais jovens com problemas de obesidade.
Segundo dados da Direcção-Geral da Saúde, em Portugal existem 2 milhões de hipertensos e apenas metade tem conhecimento da doença e um quarto está medicado, ou seja, só 16% têm a doença controlada.
Embora a hipertensão arterial não tenha cura, esta nova técnica usa um cateter para desactivar os nervos das paredes da artéria renal, reduzindo a actividade biológica que leva ao aumento da tensão nas artérias e permite uma alternativa de tratamento aos doentes que não respondem à medicação.
Este tipo de hipertensão resistente tem vindo a aumentar, sobretudo nos casos de doentes mais jovens com problemas de obesidade.
Segundo dados da Direcção-Geral da Saúde, em Portugal existem 2 milhões de hipertensos e apenas metade tem conhecimento da doença e um quarto está medicado, ou seja, só 16% têm a doença controlada.
Embora a hipertensão arterial não tenha cura, esta nova técnica usa um cateter para desactivar os nervos das paredes da artéria renal, reduzindo a actividade biológica que leva ao aumento da tensão nas artérias e permite uma alternativa de tratamento aos doentes que não respondem à medicação.
Rastreio mais preciso do cancro colorrectal
IPO do Porto Os investigadores do IPO do Porto identificaram uma nova mutação no gene MLH1, que explica 17% dos casos familiares de cancro colorrectal sem polipose na Região Norte. “Por ser tão frequente, passou a ser a primeira pesquisada no diagnóstico genético desta doença”, diz ao i Manuel Teixeira, do centro de investigação do IPO Porto. O teste a esta mutação permite alertar os familiares que a herdam, por regra 50%: devem fazer rastreio com colonoscopia a partir dos 25 anos para retirar os pólipos numa fase benigna. A outra metade fica a saber que não precisa de vigilância especial. “Até aqui, todos teriam de fazer rastreio. O teste permite assim uma melhor utilização dos recursos.”
Este ano o IPO do Porto estreou uma nova técnica de radioterapia (RapidArc) que permite, durante um tratamento, modular de forma mais dinâmica a forma do feixe da radiação e a dose, aumentando a precisão. Diminui a toxicidade e permite um melhor controlo local, explicou ao i a directora do serviço de radioterapia, Helena Pereira. Desde Março, foi aplicada em 415 doentes. “Em alguns casos viabilizou o tratamento. De outro modo seria impossível pela toxicidade previsível.”
Este ano o IPO do Porto estreou uma nova técnica de radioterapia (RapidArc) que permite, durante um tratamento, modular de forma mais dinâmica a forma do feixe da radiação e a dose, aumentando a precisão. Diminui a toxicidade e permite um melhor controlo local, explicou ao i a directora do serviço de radioterapia, Helena Pereira. Desde Março, foi aplicada em 415 doentes. “Em alguns casos viabilizou o tratamento. De outro modo seria impossível pela toxicidade previsível.”
MyHealth. Monitorizar sinais vitais no dia-a-dia
Universidade do Minho Uma toca para monitorizar em casa a actividade cerebral de doentes com epilepsia ou crises convulsivas ao longo do dia ou perceber, através de medições realizadas num fio de cabelo, o nível hormonal ou de um determinado medicamento no organismo. Parecem ideias futuristas, mas estão a avançar a passos largos em Portugal.
O projecto MyHealth junta 60 investigadores da Universidade do Minho, o Hospital de Viana do Castelo e empresas do Norte do país, como a Têxtil Manuel Gonçalves, a Frulact, a Plux, a Karl Storz.
Para já, estes futuros dispositivos para electrocardiogramas sem fios ou monitorizar sinais vitais em casa ainda não estão a ser estudados para uso em doenças específicas, algo que deverá acontecer a partir do segundo semestre de 2013. O projecto tem um orçamento de 3 milhões de euros, com fundos do QREN e das instituições promotoras.
O projecto MyHealth junta 60 investigadores da Universidade do Minho, o Hospital de Viana do Castelo e empresas do Norte do país, como a Têxtil Manuel Gonçalves, a Frulact, a Plux, a Karl Storz.
Para já, estes futuros dispositivos para electrocardiogramas sem fios ou monitorizar sinais vitais em casa ainda não estão a ser estudados para uso em doenças específicas, algo que deverá acontecer a partir do segundo semestre de 2013. O projecto tem um orçamento de 3 milhões de euros, com fundos do QREN e das instituições promotoras.
Tratar eczema com roupas especiais
Faculdade de Medicina da Universidade do Porto A inflamação crónica da pele conhecida por dermatite atópica, que afecta muitas das crianças com asma ou rinite alérgica e tem formas mais graves nos adultos, poderá em breve ter uma nova forma de tratamento, de-senvolvida em Portugal.
Os investigadores da Faculdade de Medicina do Porto (FMUP) começaram em Novembro a recrutar doentes para testarem camisolas interiores e leggings com quitosano, uma substância também conhecida pelas propriedades antiobesidade. A ideia nasceu da investigação na Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica, no Centro de Nanotecnologia e Materiais Inteligentes, no Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário de Portugal e na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto e parece diminuir a proliferação de bactérias que agravam o eczema nestes doentes. Para já, a 2nd Dermis, como é chamada esta roupa, está a ser testada em doentes com mais de 12 anos. Os investigadores querem recrutar 200 doentes. Para se inscrever no estudo, procure “2nd Dermis” no site da FMUP.
Os investigadores da Faculdade de Medicina do Porto (FMUP) começaram em Novembro a recrutar doentes para testarem camisolas interiores e leggings com quitosano, uma substância também conhecida pelas propriedades antiobesidade. A ideia nasceu da investigação na Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica, no Centro de Nanotecnologia e Materiais Inteligentes, no Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário de Portugal e na Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto e parece diminuir a proliferação de bactérias que agravam o eczema nestes doentes. Para já, a 2nd Dermis, como é chamada esta roupa, está a ser testada em doentes com mais de 12 anos. Os investigadores querem recrutar 200 doentes. Para se inscrever no estudo, procure “2nd Dermis” no site da FMUP.
Controlar insuficiência cardíaca à distância
Hospitais de Santo António, Santa Marta, Santa Maria e Hospitais da Universidade de Coimbra As doenças cardiovasculares são a primeira causa de morte em Portugal e a insuficiência cardíaca é um dos problemas mais comuns: afecta mil pessoas em cada 100 mil acima dos 65 anos. Este ano o Hospital de Santo António, no Porto, foi o primeiro a implantar um novo desfibrilhador que permite ressincronizar os movimentos cardíacos e, em alguns casos, recuperar a actividade normal do coração. Entretanto a tecnologia já está disponível noutras unidades do Serviço Nacional de Saúde.
O coração passa a ter estímulos eléctricos dos dois lados. O pacemaker especial está preparado para ser monitorizado à distância através de um sistema de controlo remoto que se espera possa vir a ser implementado em 2012, evitando que os doentes tenham de ir com tanta frequência ao hospital.
O coração passa a ter estímulos eléctricos dos dois lados. O pacemaker especial está preparado para ser monitorizado à distância através de um sistema de controlo remoto que se espera possa vir a ser implementado em 2012, evitando que os doentes tenham de ir com tanta frequência ao hospital.
Um diagnóstico molecular para o Alzheimer
2CTech Esta spin-off do Centro de Biologia Celular da Universidade de Aveiro nasceu em Fevereiro e termina o ano com um avanço promissor no diagnóstico do Alzheimer. Os investigadores criaram um teste que permite detectar a doença de forma mais inequívoca que a avaliação cognitiva, a abordagem mais comum.
O teste começa com a recolha de líquido cefalorraquidiano (o líquido entre o crânio e o córtex), através de punção lombar. Depois é feita uma análise neuroquímica que permite detectar alterações da beta amilóide, da proteína tau e da proteína tau fosforilada, que hoje se sabe sinalizarem a doença. Os responsáveis da 2CTech adiantam ao i que já houve manifestações de interesse, mesmo do SNS. “Estamos a explorar a possibilidade de fazer protocolos com unidades de saúde.” Além de detectar a doença numa fase precoce, quando as perdas ligeiras de memória geram dúvidas, o teste poderá ser útil na monitorização do efeito de terapêuticas, por exemplo em ensaios clínicos. Esperam, no futuro, encontrar biomarcadores para aplicar testes idênticos noutras doenças neurodegenerativas.
O teste começa com a recolha de líquido cefalorraquidiano (o líquido entre o crânio e o córtex), através de punção lombar. Depois é feita uma análise neuroquímica que permite detectar alterações da beta amilóide, da proteína tau e da proteína tau fosforilada, que hoje se sabe sinalizarem a doença. Os responsáveis da 2CTech adiantam ao i que já houve manifestações de interesse, mesmo do SNS. “Estamos a explorar a possibilidade de fazer protocolos com unidades de saúde.” Além de detectar a doença numa fase precoce, quando as perdas ligeiras de memória geram dúvidas, o teste poderá ser útil na monitorização do efeito de terapêuticas, por exemplo em ensaios clínicos. Esperam, no futuro, encontrar biomarcadores para aplicar testes idênticos noutras doenças neurodegenerativas.
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